Como deve ser a comunicação entre um profissional da saúde e seu paciente?

“O simples fato de o doente se sentir compreendido já é terapêutico”. A frase é do médico, psiquiatra e professor universitário Julio Machado Vaz em entrevista ao site português Sapo LifeSytle. A comunicação terapêutica, seja ela no cuidado de quem está no hospital provisoriamente ou sob cuidados paliativos (no hospital ou em casa), merece destaque. A forma como o profissional da saúde se comunica com o paciente tem total relação com a fluidez do tratamento, e, muitas vezes, contribui para um quadro de memória. É preciso estar atento à comunicação verbal e não verbal.

Nas palavras de Vaz “A relação médico-doente deve ser o encontro entre dois sujeitos em que um é especialista em doenças e o outro na sua doença. Ambos têm modelos explicativos para as queixas. Da sua articulação nasce uma aliança terapêutica que permite decisões partilhadas quanto ao melhor tratamento”.

As ideias do professor vão ao encontro do que prega a Profa Dra Maria Julia Paes da Silva, estudiosa da área da Comunicação e com longa carreira dedicada à emergência de hospitais. Ela destaca que o profissional da saúde deve sempre assumir um comportamento terapêutico, ou seja, de colocar algo que sabe à disposição do outro e lembrar que está ali por sua própria escolha a serviço de alguém que necessita de cuidados.

Autora de obras como “Comunicação tem remédio”, “O amor é o caminho – maneiras de cuidar”, entre outras, Maria Julia dá ênfase ao cuidado com a comunicação não-verbal também. Segundo a professora, é preciso respeitar o espaço pessoal de cada paciente e estabelecer um vínculo de confiança para que o tratamento seja bem assimilado. Um gesto que não condiz com o que o profissional da saúde está dizendo quebra essa confiança, uma vez que uma pessoa enferma fica muito mais atenta às ações do seu interlocutor. Uma dica muito simples, mas que faz total diferença é sempre dizer o que vai fazer para o enfermo e dar-lhe um tempo para assimilar o próximo passo. Por exemplo: informar que vai trocar a roupa e não ir simplesmente desabotoando uma camisa.

“Não tem como cuidar sem invadir o espaço pessoal e para tanto é preciso ler a comunicação não verbal dessa pessoa para entender o quanto ela tolera essa aproximação”, explica.

Em artigo para o Portal Educação, a enfermeira e farmacêutica Margareth Oliveira Amâncio , especialista em saúde pública, urgência e emergência, lembra que é importante que o profissional da saúde conheça e entenda a classe, a situação socioeconômica e cultural dos seus usuários para que assim possa estabelecer um planejamento de comunicação mais adequado e esclarecedor para seu público. “De nada adianta manter o mesmo diálogo terapêutico direcionado a um público jovem para uma pessoa idosa com certas debilitações, pois a maneira de receber, perceber e decifrar desses dois públicos são diferentes”, destaca.

Segundo artigo do PEBMED – portal especializado em conteúdos médicos, são erros comuns na comunicação com o paciente:
1. Desviar o olhar e focar a atenção na tela do computador enquanto o paciente está falando;
2. Deixar transparecer ao paciente que está com pressa;
3. Fazer apenas perguntas fechadas (que comporta apenas respostas “sim” ou “não”)
4. Não dar importância ao problema do paciente;
5. Não permitir momentos para perguntas.

Para quem deseja melhor a comunicação com uma pessoa enferma, a professora Maria Julia aponta cinco pontos que não devem ser esquecidos pelos cuidadores:

1. Fundamento da relação: lembrar que está ali porque escolheu aquele trabalho e que inevitavelmente precisará lidar com pessoas que não estão bem, estão fragilizadas;
2. Dimensão cognoscitiva: o diagnóstico é fundamental para o tratamento, mas é preciso lembrar continuamente que o enfermo não se resume à sua enfermidade. É necessário ampliar o olhar e ter em mente em que momento da vida aquela pessoa está. Por exemplo: uma pessoa jovem que recebeu um diagnóstico de uma doença grave, uma pessoa que está no meio de um grande projeto pessoal e de repente se vê impossibilitada de seguir adiante, entre outras possibilidades;
3. Dimensão operativa: cada ação conta e até a forma como o profissional da saúde cumprimenta ou toca o paciente interferirá na forma como a relação vai fluir;
4. Dimensão afetiva: é preciso saber dosar a relação de afeto, no sentido de que a todo momento nós afetamos as pessoas e somos afetadas por elas. Tendo isso em mente, é importante se questionar: “de que modo posso falar com aquela pessoa tão fragilizada?” ou “como posso suavizar sua dor”, entre outros exemplos.
5. Dimensão ética religiosa. A ética deve prevalecer, bem como o respeito a uma orientação religiosa diferente entre paciente e enfermo.

Assim, e preciso lembrar, como destaca a Maria Julia, que “somos mensagem pelos nossos gestos, expressões faciais, postura corporal, pela distância que a gente mantém das pessoas e inclusive pelo tom de voz que a gente fala com elas”.

Referências:
Se deseja saber mais sobre comunicação terapêutica, assista à videoaula com a Profa Maria Julia Paes da Silva: clique aqui.

Leia aqui a entrevista do professor Julio Machado Vaz ao site português Sapo: https://lifestyle.sapo.pt/saude/noticias-saude/artigos/a-relacao-medico-doente-o-simples-facto-de-o-doente-se-sentir-compreendido-e-em-si-mesmo-terapeutico

Confira aqui o artigo da enfermeira Margareth Oliveira Amâncio: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/farmacia/comunicacao-um-grande-desafio-entre-os-profissionais-de-saude-e-o-paciente/14659

Leia na íntegra o artigo da PEBMED sobre os erros mais comuns na comunicação com o paciente: https://pebmed.com.br/5-erros-comuns-na-comunicacao-com-o-paciente/amp/

 

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