
Quase todos os dias vivenciamos algum tipo de luto: uma oportunidade perdida, um emprego que se foi, um compromisso que não conseguimos atender. Nossas frustrações são como pequenos lutos com os quais lidamos e tocamos a vida. Mas quando uma pessoa que amamos se vai, o luto se instala e muda tudo. E nós – e a nossa sociedade – questionamos: por quanto tempo eu posso ficar em luto? Será que em até um ou dois anos voltarei ao normal? O luto teria um tempo certo para acabar? Qual é o tempo do luto?
Evidentemente que tais questionamentos não são (pelo menos não deveriam) ser feitos de forma tão aberta, taxativa ou consciente. Mas numa sociedade em que somos cobrados para estarmos bem sempre e rapidamente, o tempo de recuperação do luto – que é um processo individual e, portanto, variável – pode não ser respeitado, resultando em mais complicações para o enlutado.
No primeiro ano da ausência, todas as datas comemorativas – como aniversários, Páscoa, Natal, entre outras – serão vivenciadas sem aquela pessoa e o enlutado começará a se reorganizar internamente, compreendendo que a vida segue de forma diferente da qual estava acostumado a lidar.
Durante este período, o indivíduo oscilará entre dois movimentos: o movimento de vivenciar a perda e o de vivenciar a restauração. Trata-se do chamado “processo dual do luto”, elaborado pelos pesquisadores Stroebe e Schut: “o indivíduo se adapta à perda e constrói um novo significado para sua vida, ou seja, passa para a etapa seguinte, a partir de um enfrentamento da situação orientado para a perda ou um enfrentamento orientado para o reinício, ressignificação da própria vida e oscila (naturalmente) entre um e outro movimento”.
O fato é que nem todas as perdas são iguais. Afinal, sabemos que há pessoas que partem e que tiveram (e sempre terão) um significado tão profundo para nosso viver que acabam transformando a continuidade de nossas existências, como um filho que perde uma mãe, uma mãe que perde um filho, um casal muito próximo no qual um cônjuge se vai, entre outras.
Como elaborar o luto nestes casos? Seria possível estimar o tempo do luto? Fontes ouvidas pelo VivaBem, do UOL, em matéria sobre a existência ou não de um prazo de validade para o luto afirmaram que “a perda é para sempre, e neste sentido, sempre seremos afetados por ela. Mas o luto não é para sempre, ou seja, é possível se organizar após uma perda”.
Como a pessoa se organizará dependerá de uma série de variáveis, como sua própria personalidade, história de vida, rede de apoio, e ajuda terapêutica adequada para que o enlutado vivencie de forma mais saudável este processo. O papel do provedor de ajuda – um psicólogo ou psiquiatra, por exemplo – pode ser fundamental para que o enlutado evolua.
Se deseja saber mais sobre transtornos do luto, sugerimos a videoaula “Luto complicado”, com o psiquiatra britânico Prof Dr. Colin Murray Parkes, referência em estudos sobre o luto. Ele relata algumas de suas experiências em consultório e quais técnicas utilizou para ajudar seus pacientes. https://www.onelifealive.org/shop/luto-complicado-palestra-com-professor-dr-colin-murray-parkes/
Se quer ler a matéria do Viva Bem mencionada acima, clique aqui: https://vivabem.uol.com.br/noticias/redacao/2018/11/27/existe-um-prazo-de-validade-para-o-luto-ate-quando-ele-e-normal.htm
Matéria muito interessante. Parabéns.